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Foto: Divulgação

A segurança nas cidades brasileiras é um desafio ainda maior para pessoas LGBTI+ . No país que mais mata pessoas transexuais, mesmo espaços considerados seguros, como uma padaria ou fila bancária, pode oferecer riscos para uma pessoa lésbica, gay, bi, trans ou intersexual. Provocados por esta realidade, os arquitetos Hóttmar Loch e Bruno Jordão e a arquiteta Mariana Godoy uniram-se a um grupo interessado no debate para criar uma ferramenta tecnológica que pudesse combater a vulnerabilidade destes usuários em Florianópolis.  

O resultado é a startup de impacto social Nohs Somos, uma plataforma online que disponibiliza um mapa onde os usuários podem informar e avaliar os espaços públicos e privados de acordo com a receptividade ao público LGBTI+. Oferece ainda a possibilidade de denunciar ocorrências de LGBTIfobia. Em fase de aperfeiçoamento, a plataforma dispõe de um mapa georreferenciado onde se pode identificar locais e serviços considerados amigáveis. Atualmente, a base de dados A expectativa é de que o projeto avance para outras etapas entre agosto e novembro, como a ativação de novas funções na plataforma web e a migração para a plataforma mobile. Na nova fase, uma nova campanha de engajamento vai incentivar a expansão da abrangência do Mapa LGBTI+ para o restante do país.

Hóttmar divide a iniciativa com os sócios Felipe Figueira, jornalista, e Yuri Cruz, pesquisador. Juntos, lideram um grupo com 26 participantes. Ele conta que todas as fases do produto foram concebidas em cocriação ao longo dos últimos dois anos. A construção coletiva permitiu aprimorar o produto a partir da experiência e das diferentes necessidades. “Entendemos que havia uma interseccionalidade muito grande e dores diferentes para quem era branco, preto ou de cada identidade de gênero e orientação sexual. Nos unimos através das semelhanças mas cocriamos através das diferenças”, conta o arquiteto.

Equipe cocriadora do aplicativo | Divulgação

Para Hóttmar, a arquitetura e urbanismo precisa despertar para a inclusão e o respeito à população LGBTI+, absorvendo a perspectiva da fenomenologia, que considera a experiência de todas e todos que pertencem aos espaços. “A diversidade é um fato, a inclusão é uma escolha”, afirma Hóttmar. “Falar sobre a diversidade LGBTI é fazer um recorte dentro da diversidade como um todo. É fundamental trazer o subjetivo da inclusão na construção dos espaços”, complementa.

LGBTIfobia no Brasil

Levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia, uma das organizações mais antigas para o ativismo lgbti+ do país, reportou 1 morte de pessoas transexuais a cada 26 horas em 2019. Nos anos anteriores, o número de vítimas da transfobia foi ainda maior: 445 mortes em 2017 e 420 em 2018. 

No ano passado, o Supremo Tribunal Federal estendeu os dispositivos da Lei do Racismo para punir homotransfobia. A maioria dos ministros entendeu que, apesar da competência ser do legislativo, é preciso garantir dispositivos legais para proteção das pessoas LGBT enquanto o Congresso não age em favor destes cidadãos e cidadãs.


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