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Na última semana da CasaCor Santa Catarina – Florianópolis – 2019, o CAU/SC promoveu a palestra “A atuação no mercado de arquitetura de interiores e a importância do RRT de interiores”. A convidada foi a presidente da Associação de Arquitetos de Interiores – AAI/BR e representante da associação no CEAU-CAU/RS, Flávia Bastiani.

.:. Veja o álbum de fotos da palestra .:.

Flávia é formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS em 2002 e desde então trabalha com a Arquitetura de Interiores. É pós-graduada em Arquitetura Paisagística pela PUC RS (2007) e cursou MBA em Gestão para Escritórios de Arquitetura pela FGV entre  2013 a 2015. Trabalhou em um grande escritório, coordenando equipe de projetos residenciais e atualmente tem mantém seu próprio negócio.

Ingressou na Associação de Arquitetos de Interiores (AAI Brasil/RS) em 2012, onde participou de grupos de trabalho de revisão do Guia de Orientação Profissional, publicação desenvolvida pelo AAI/Brasil/RS há mais de 20 anos para instrumentalizar a atuação dos profissionais na arquitetura de interiores. “Trata-se de um manual prático que tem como objetivo orientar os arquitetos e urbanistas para o exercício da profissão e é referência do setor em termos de formas de cobrança de honorários profissionais”, conta Flávia Bastiani. O Guia é distribuído gratuitamente e pode ser baixado no site da AAI neste link.

Nesta entrevista, a arquiteta fala sobre o amplo cenário, desafios e oportunidades para atuação profissional dentro da arquitetura e de interiores. “A maioria dos profissionais autônomos debruça-se sobre o mesmo perfil de público alvo: invariavelmente aquele que detém maior poder aquisitivo. Se pararmos para pensar é a menor porção da população brasileira. Será que não estamos deixando de atender uma proporção imensa do mercado?”, questiona a presidente da AAI Brasil/RS. Também esclarece sobre a importância do Registro de Responsabilidade Técnica para a valorização profissional.

Leia a íntegra da entrevista:

CAU/SC – Quais são as oportunidades e principais dificuldades que os arquitetos encontram ao optar pela carreira de interiores?

Flávia Bastiani – As oportunidades de mercado para a Arquitetura de Interiores são amplas, e as dificuldades e desafios idem. As oportunidades são inúmeras, é um campo de atuação bastante largo e há uma boa demanda por projetos e serviços que envolvem os profissionais arquitetos nessa área.

Saliento que Arquitetura de interiores não trata, como frequentemente imagina-se, somente de espaços residenciais, mas sim de qualquer outro segmento, como: comercial, coorporativo, médico-hospitalar, escolar, lazer, esportivo, cultural, hoteleiro, industrial.

A cada semestre um grande número de formandos surge no mercado e direciona-se para a carreira em interiores, atuando como autônomos de forma totalmente despreparada em termos de gestão de escritórios, de relacionamentos com clientes e de condução de serviços ligados à execução de obras. Diria até que o desconhecimento em gestão não é “privilégio” somente dos recém-formados.

A volumosa concorrência aliada ao despreparo em gestão de negócios e de relacionamentos são grandes dificuldades que percebo. Preocupa-me a vulnerabilidade nas relações contratuais, tanto para profissionais liberais como para colaboradores de empresas, o aviltamento de honorários e o desconhecimento de questões legais e normativas relativas ao exercício da profissão, o que prejudica a classe como um todo.

Sinto ainda que a maioria dos profissionais autônomos dedicados à Arquitetura de Interiores debruça-se sobre o mesmo perfil de público alvo: invariavelmente aquele que detém maior poder aquisitivo. Se pararmos para pensar é a menor porção da população brasileira. Então será que não estamos deixando de atender uma proporção imensa do mercado?

Há muitas oportunidades ainda sendo pouco exploradas, e cada vez mais a capacidade de gerar valor aliada à clareza em demonstrar isso ao mercado, serão os pontos fortes para os profissionais de arquitetura de interiores, valorizando o papel estratégico do arquiteto e da própria arquitetura na qualidade de vida das cidades e de todos nós.

 

De que forma a Associação de Arquitetos de Interiores colabora com o avanço desta área de atuação?

A AAI Brasil/RS, há 32 anos, contribui com a qualificação dos profissionais em diversos âmbitos, e nos últimos anos prioriza ainda mais os temas voltados à gestão, ao marketing e as possibilidades de mercado, por meio do incentivo às boas práticas profissionais.

Temos como uma importante ferramenta desenvolvida pela AAI Brasil/RS o Guia de Orientação Profissional – GOP, que é um instrumento que desenvolvemos há mais de 20 anos e que tem sido atualizado constantemente. Trata-se de um manual prático que tem como objetivo orientar os arquitetos e urbanistas para o exercício da profissão e é referência do setor em termos de formas de cobrança de honorários profissionais. O GOP também traz legislações pertinentes, normas, conceituações de atividades e atribuições, modelos de contratos de prestação de serviços, manual de orientação do usuário, artigos sobre Responsabilidades Profissionais e Direito Autoral.

No conteúdo de Honorários Profissionais e Gestão do Escritório, o guia apresenta a metodologia de cálculo pelo Valor Hora Produtiva – VHP, adotado no aplicativo calculAAI, desenvolvido especialmente pela Associação.

Frequentemente realizamos workshops demonstrando o método de formulação de honorários, através de exercícios com o uso do calculAAI e, principalmente, orientando quanto às boas práticas defendidas no Guia, reafirmando a necessidade de uma atuação profissional responsável, ética e valorizada.

Estivemos em diversas cidades do interior do RS ministrando esses encontros e recentemente fomos convidados para uma oficina com esse tema no 21° Congresso Brasileiro de Arquitetos.

Até 2013, o guia era impresso e foi aprimorado em 2018, pela atuação de um Grupo de Trabalho da AAI Brasil/RS, para a 11ª edição, e então publicado no formato de e-book, que pode ser baixado gratuitamente no site da entidade.

A presença da entidade em universidades também tem sido constante, justamente no intuito de agregar os profissionais recém-formados, que, obviamente nos procuram com maiores dúvidas e receios quando ingressam no mercado.

Nos nossos seminários procuramos trazer convidados de diversas regiões do Brasil e temas de relevância para nossa atuação, como os mais recentes: “Arquitetura compartilhada: novas demandas, novas oportunidades” (em 2016) e “Formação generalista x atuação especialista” (em 2017).

Nesse ano de 2019 estamos desenvolvendo o projeto vivênciAAI, que se desdobra em quatro encontros ao longo do ano, no formato de palestras e oficinas, de modo a experimentar, na prática, realidades diversas (precárias e problemáticas), como: dificuldades de mobilidade e falta de acessibilidade, a moradia precária em centros urbanos, a falta de saudabilidade nas edificações e a difícil situação econômica da grande maioria da população brasileira. O objetivo está sendo focar nas diversas possibilidades de ampliação do mercado da Arquitetura de Interiores, de forma a atender nichos de mercado que necessitam dos serviços de arquitetura e que não estão sendo atendidos.

Alinhada com as tendências e comportamento atuais lançamos também a plataforma AAI Digital, um espaço inovador de divulgação de conteúdo, cotidiano e on-line, através de mídias de largo alcance e acesso direto à sociedade, procurando ampliar a divulgação da produção dos arquitetos e a consequente valorização da Arquitetura e Urbanismo, em especial da Arquitetura de Interiores.

 

Qual a importância do registro do RRT de interiores?

Além de uma  exigência legal, decorrente da Lei que regulamenta a profissão de arquiteto e urbanista, o RRT é o documento que: identifica o responsável pela atividade técnica; comprova a existência da relação com o serviço contratado, ou vínculo com empresa contratante (no caso de desempenho de cargo ou função técnica); define os limites das responsabilidades pelas quais o profissional responde; pode ser utilizado como prova para eventuais processos judiciais e garante o registro de acervo técnico (importante no caso de licitações e/ou contratações).

Para o contratante e a sociedade em geral o RRT é o documento que dá segurança técnica e jurídica, pois demonstra que está sendo executado por um profissional legalmente habilitado, serve como instrumento de defesa à medida que formaliza o compromisso do profissional com a qualidade técnica dos serviços prestados.

Além disso auxilia no levantamento e verificação do efetivo exercício da Arquitetura e Urbanismo no país, viabilizando a formação de um banco de dados importantes para o planejamento e futuras ações.

O RRT precisa ser visto como um ponto a favor da boa conduta profissional, e consequentemente da valorização do Arquiteto e Urbanista. Quanto mais conhecemos nossas responsabilidades, mais instrumentos temos para demonstrar a importância do nosso papel como profissionais. Precisamos conquistar na sociedade a percepção clara sobre as responsabilidades que assumimos e sobre o valor das soluções que entregamos. Isso é valorização profissional.

 


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