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“Por que a gente nasce?”, Ariane Rosa inquiria à mãe sobre o sentido de estar no mundo. A resposta – casar, ter filhos e morrer – não alcançava a expectativa da menina de sete anos. A inquietação fez com que a escolha profissional também chegasse cedo, na sétima série do 1º grau (atual ensino fundamental). A curitibana que mudou com a família para Santa Catarina foi aprovada no seu primeiro vestibular para o curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. Nos anos 90, as mulheres já eram a maioria nas turmas de arquitetura, o que era visto com certo demérito. “Havia uma visão machista de que fazia arquitetura quem não conseguia cursar engenharia”, lembra a arquiteta. Da experiência acadêmica, Ariane levou inspirações e decepções – ambas transformadas em ferramentas para a construção da própria história. “Sempre achei que a gente é que tem que fazer o próprio caminho.”

Na opinião da arquiteta, que vive em Itajaí, o desafio das arquitetas é mesmo da maioria das mulheres: o de se fazer ouvir em uma sociedade majoritariamente comandada pelos homens.  A mudança desta realidade, acredita, passa por políticas públicas e, especialmente, pela educação, seja na escola ou no ambiente familiar. Mãe de Gabriel, 13 anos, e de Leonardo, 5, Ariane conta que procura provocar a mudança dentro de casa, com a divisão do trabalho doméstico entre toda a família. “Acredito que no mundo corporativo nós só teremos igualdade quando houver equivalência entre as licenças maternidade e paternidade” afirma. Ela enfatiza que conseguiu construir uma relação de responsabilidades equivalentes com o marido, mas reconhece que o mesmo não acontece em todos os casamentos.

Para Ariane, a condição de cuidadora que ainda é atribuída à mulher costuma provocar também o olhar da arquiteta sobre a cidade. “Como essas atividades ainda recaem mais sobre nós, é automático observar detalhes dos ambientes. Isso se reflete no nosso trabalho e no espaço que a gente constrói, seja ele público ou privado”, afirma. Além de um olhar atento para a construção de ambientes mais inclusivos, a arquitetura também lhe ofereceu o privilégio de organizar os próprios horários e, assim, garantir todo o tempo que considera necessário para a dedicação aos filhos e ao marido, alguns dos seus principais projetos de vida.

Faltava encontrar um significado mais profundo para a vida profissional – e, com ele, a resposta para o questionamento da infância. A descoberta veio após 22 anos de uma carreira que teve diferentes fases.  “O resultado do meu trabalho é a transformação na vida das pessoas, e apenas recentemente eu descobri que não preciso fazer isso apenas através de projetos”, conta a arquiteta. Ariane, que também é blogueira, acaba de criar um canal na plataforma Youtube, onde pretende compartilhar conhecimento com os colegas. “Cada trabalho que eu faço gera uma intensa pesquisa. Essas informações podem ser uteis e por meio dos vídeos podem chegar a um maior número de pessoas”, conta, experimentando mais uma vez o potencial transformador da arquitetura na sua própria história.

Ariane Rosa foi uma das arquitetas indicadas pela enquete do CAU/SC para relatar sua trajetória na arquitetura neste Dia Internacional da Mulher

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