Publicado no dia

A arquitetura, a família e o ensino são fios de um mesmo tecido na vida de Marial del Pilar Fedele Carlevaro, 81 anos. Ex-professora do curso de Arquitetura da Universidade Regional de Blumenau (Furb), Pilar é também elo de uma família de arquitetos. Além do marido, Yamandú Carlevaro, tem também duas filhas arquitetas e um filho engenheiro.

A memória familiar e profissional da família Carlevaro está registrada em fichários cuidadosamente mantidos pela matriarca. São anotações de próprio punho, fotos, recortes e outros materiais que catalogam a história, edificada ao longo de mais de quarenta anos.

Nascida em Montevideu, onde também concluiu os estudos na Faculdade de arquitetura de Montevidéu, Maria Del Pilar era recém formada quando acompanhou o marido em uma temporada de estudos em Madri, em 1968. Na ocasião, foi chamada a colaborar com projetos de urbanização para duas cidades espanholas, Talavera de La Reina e Buitrago del Lozoya. “Fiz o acondicionamento de cidades carregadas de história para a vida atual. Foi algo muito significativo” lembra.

Retornando à capital uruguaia, abriu escritório de arquitetura com a amiga e ex-colega Nora Pons. “Nós duas tínhamos filhos pequenos e trabalhávamos com eles junto”, relembrou entre sorrisos, numa tarde de fevereiro em que recebeu a reportagem do CAU/SC no escritório de uma das filhas, no centro de Florianópolis.

Os arquivos pessoais de Pilar também guardam registros de uma fase em que a arquiteta se dedicou ao mercado da arte, assim que chegou ao Brasil.  Nos anos 1970 foi proprietária das galerias de arte Quasar, em Porto Alegre, e Victor Meirelles, em Florianópolis. Esta última, inaugurada em 1977 dentro de um dos mais importantes clubes sociais da cidade – o Clube Doze de Agosto – contou com exposições de nomes nacionais e expressivos no campo das artes visuais do Estado, como Eli Heil e Rodrigo de Haro. “Na época, não havia nenhuma galeria de arte por aqui. As exposições eram mais uma atividade social do que artística”, conta.

Mas foi no ensino da arquitetura que ela deixou sua principal marca. Estimulada a construir uma escola que aproximasse ao máximo a teoria, lecionou nos cursos de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, da Faculdade de Criciúma e foi professora da Furb/Blumenau por mais de dez anos, entre 1988 e 2002. “Não era muito cômodo para mim me deslocar toda semana (para Blumenau), mas era uma coisa lindíssima organizar uma escola de arquitetura”, recorda.

Como professora de História da Arquitetura, Pilar conta que a missão de “ensinar a ver e a viver a arquitetura” determinou sua forma de lecionar. Com esta motivação, idealizou um projeto que viabilizava a viagem de turmas inteiras para a Europa a fim de conhecer e vivenciar a arquitetura do velho mundo. “Eu tentei fazer das aulas teóricas uma coisa viva. Era preciso vivenciar a realidade, ver como a verdadeira arquitetura perdurará para toda a vida”, conta.

“Tem um ditado que diz que ‘quem sabe faz, quem não sabe ensina. Ou seja, que a maioria dos professores são arquitetos que não conseguiram trabalhar como arquitetos e se dedicaram tristemente a ser professor. Isso me doía muito. Então entendi que se pode ser perfeitamente ser um arquiteto que não trabalha em arquitetura por que, para toda e qualquer coisa que se faça, é preciso ter o mesmo princípio, que é fazer viver a arquitetura”, afirma a professora Maria Del Pilar.

Maria Del Pilar Carlevaro foi uma das arquitetas indicadas pela enquete do CAU/SC para relatar sua trajetória na arquitetura neste Dia Internacional da Mulher

.:. Leia também .:. Ariane Rosa e a arquitetura para transformar vidas

.:. Leia também .:. A cidade democrática de Marília Ruschel

.:. Leia também .:. Silvya Caprario e a luta por uma cidade mais inclusiva


Deixe seu comentário