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Mesa de abertura do lançamento de "Hans Bross: memória de uma arquitetura" | Fotos: Felipe Wagner

Arquitetos e representantes de entidades da área participaram do lançamento do livro “Hans Broos: memória de uma arquitetura” nesta quinta, 29 de novembro. A obra é o resultado de intensa pesquisa sobre o arquivo pessoal e profissional de um dos nomes mais proeminentes da arquitetura em Santa Catarina e foi lançada em um dos espaços projetados pelo arquiteto: o Fórum Desembargador Eduardo Luz, que acaba de completar 50 anos.

O evento foi uma promoção do Colegiado de Entidades de Arquitetos e Urbanistas de Santa Catarina (CEAU-CAU/SC) e se transformou em um verdadeiro ato pela preservação do patrimônio arquitetônico moderno do país. Na mesa de abertura, o coordenador do CEAU e presidente do IAB/SC, João Villanova Gallardo, lembrou que muitos edifícios como os projetados por Hans Broos padecem de conservação no país. Ele evocou o artigo 216 da Constituição Brasileira para lembrar o pacto de proteção ao patrimônio cultural brasileiro que vem sendo renegado. “Se não forem tomadas medidas rápidas e construtivas o país perderá seu acervo, especialmente construções dos séculos 17, 18 e 19, em, no máximo 50 anos”, alertou.

Para a presidente do CAU/SC Daniela Pareja Garcia Sarmento, diante de um cenário em que falta entendimento das instâncias públicas e da sociedade sobre a perda do patrimônio histórico, o lançamento da obra representa um contraponto. “São jovens arquitetos que reavivam a história de Hans Broos e o seu legado é um posicionamento político. O livro é uma obra simbólica para que comecemos imediatamente a salvar as nossas obras também do século 20”, afirmou. “Temos um caminho político muito importante para ser travado, buscar estratégias de sensibilizar a sociedade e traduzir esta urgência”, completou a presidente, que reforçou a importância de fortalecer as entidades e o engajamento dos arquitetos por meio do CEAU.

A presidente da AsBEA/SC, Tatiana Filomeno, lembrou que a conservação do acervo de Hans Broos era uma preocupação do CEAU. Ela lembrou que, ao lançar seu livro “Arquitetura em Retrospectiva”, em que resgata a história das Bienais de Arquitetura de São Paulo, a arquiteta e urbanista Elisabete França alertou para a perda que a arquitetura teve como movimento cultural no Brasil. “Que as entidades e o CAU possam fomentar o lançamento do livro de Hans Broos em outros estados e levar a proposta para o CAU/BR”, sugeriu.

O representante do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Santa Catarina (SASC), Ângelo Arruda, destacou o alto nível da publicação. “Este livro é fruto de um trabalho de pesquisa gigante e que representa pra história da arquitetura moderna brasileira aquela lacuna que faltava”, afirmou, em sua intervenção na mesa de abertura.

Também participou da mesa de abertura a arquiteta Jaqueline Andrade, que integra a comissão de Ensino e Formação (CEF) e a Comissão de Políticas Urbanas e Ambientais (CPUA). Na opinião de Jaqueline, o livro é um objeto de estudo para os arquitetos e urbanistas em formação. “Arquivos de representação não verbal precisam ser mais explorados na academia, como instrumentos que permitem descobrir quais decisões os arquitetos tomam e quando os fazem durante um determinado projeto. E esse olhar para o que já foi realizado, para que o que faz parte da história de um lugar, mas criando uma nova arquitetura de acordo com seu tempo é o que é visto na obra de Hans Broos”, acredita.

Antes do lançamento, o Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo – UFSC e doutor em Teoria da História da Arquitetura, Luiz Eduardo Fontoura Teixeira proferiu palestra  em que mapeou os principais exemplares da arquitetura moderna em Florianópolis e em Santa Catarina, dentre os quais, as obras de Hans Broos.

A poética de Broos em livro

Autores falaram sobre o projeto que deu origem à obra

A publicação foi viabilizada pelo Programa de Incentivo à Cultura do Governo do Estado de São Paulo – PROAC – e patrocinado pela Companhia Hering, de Blumenau, uma das cidade onde Broos viveu e abriga uma parte considerável de sua obra. A autoria do livro é de André Luís de Lima, Guilherme Freitas Grad e João Serraglio. Apresenta prefácio de Luiz Eduardo Fontoura Teixeira e posfácio de Bernardo Brasil Bielschowsky. O projeto gráfico tem co-autoria da designer Tina Merz e a edição é bilíngue (português/inglês).

O projeto possibilitou ao arquiteto André Luís de Lima unir a arquitetura e a cultura, duas áreas do seu interesse. Ele conta que a provocação veio do arquiteto Bernardo Brasil Bielschowsky, que convivia com Broos em Blumenau e que escreveu o posfácio do livro. Do início do projeto até o lançamento, foram mais de dez anos entre pesquisas de acervo, avaliação do formato, buscas por formas de financiamento e conversas com o próprio Hans Broos, que acompanhou parte do trabalho antes de sua morte, em 2011. “Ele falava muito das suas filosofias de vida, de lembranças da Europa. Dizia que veio para o Brasil por que não queria mais saber de guerra. Queria um lugar que pensasse mais no futuro”, conta André.

O formato da obra também deriva dos conselhos de Broos. “Hans Broos dizia: falar menos e desenhar mais”, lembra o autor João Paulo Serraglio. O resultado é uma obra-atlas, bastante visual e pouco verbal. “A gente queria que as obras falassem. Que as pessoas pudessem fazer a comparação entre obras de períodos distintos e chegar a conclusões que talvez nem nós tivéssemos chegado”, explica.

Segundo Guilherme Freitas Grad, o projeto pretende, para além de marcar a contribuição de Broos para a arquitetura moderna, incentivar outras medidas de preservação do patrimônio. “Conseguimos uma catalogação de acervo e outras ações que podem gerar futuras iniciativas pra outros órgãos federais e municipais. Isso é muito importante pra gente”, afirma.

O evento marcou o encerramento das ações do CEAU/SC em 2018, um momento importante de trocas e encontros entre as entidades que, ao longo do ano, construíram o entendimento da importância de se valorizar a obra do arquiteto Broos e o patrimônio moderno, refletindo sobre como o CAU/SC e as demais organizações podem trabalhar em conjunto para este fim.

 


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