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Cerca de 60 pessoas, entre participantes e convidadas, passaram pelo Café Mulheres e Arquitetura - 2ª edição | Foto: Andressa Santa Cruz/Agência Escudero

A intensa participação do público marcou o 2º Café Mulheres e Arquitetura, evento promovido pelo CAU/SC para celebrar o Dia Internacional da Mulher. O encontro, que aconteceu no dia 13 de março no Museu da Escola Catarinense (MESC), teve participação ativa de cerca de 60 pessoas, entre inscritas, convidadas e representantes de organizações que prestigiaram o encontro. Veja as fotos do encontro.

Três etapas distintas foram programadas para a atividade. A primeira delas, em formato de word café, teve participação exclusiva de arquitetas mulheres. Nela, as participantes formaram grupos de trabalho para definir o funcionamento da Câmara Temática Mulheres e Arquitetura a partir das pautas apontadas durante as discussões. Entre os temas levantados, o sentimento de baixa autoestima das profissionais. “Há pesquisas que mostram que uma menina de seis anos já se sente menos capaz do que um menino da mesma idade e isso se repete na vida adulta. A mulher costuma não se sentir pronta para um desafio. Ficou bem evidente que a gente precisa trabalhar isso também entre nós”, afirma a conselheira suplente e coordenadora da Câmara Temática Mulheres e Arquitetura, Juliana Dreher. Recém criada, a Câmara Temática Mulheres e Arquitetura manterá estes temas em permanente debate dentro do CAU/SC em reuniões periódicas e outras ações.

Outra referência frequente foi o desafio de equilibrar a carreira profissional e acadêmica com a maternidade e a sobrecarga que esta condição gera para a vida das mulheres esteve entre os mais recorrentes.

Word café teve participação exclusivamente feminina para planejar as ações da Câmara Temática Mulheres e Arquitetura | Foto: Andressa Santa Cruz/Agencia Escudero

“Paramos pra falar sobre nós mesmas”

O segundo momento do Café oportunizou a troca de experiências entre as profissionais. Foi o momento de ouvir os relatos das arquitetas indicadas por votação on-line. Maria Del Pilar Carlevaro, Ariane Rosa e Silvya Caprario contaram sua história pessoal e profissional durante a mesa que foi mediada pela arquiteta Luiza Dias, do coletivo Arquitetas Invisíveis. “Foi um momento riquíssimo que mostrou a importância de nos mantermos próximas. Paramos pra falar sobre nós mesmas e isso permite que a gente possa se identificar e, assim, se construir a partir da experiência umas das outras”, afirmou a presidente do CAU/SC, Daniela Sarmento.

A palestra com a arquiteta Luiza Dias, do coletivo Arquitetas Invisíveis, foi a última programação do encontro. Antes dela, houve uma mesa de abertura com a presença da presidente do CAU/PR, Margareth Menezes, do representante da Coordenadoria da mulher em situação de violência doméstica e familiar do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Dr. Marcelo Volpato;  da Comissão da Mulher do Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina, Letícia Maduell de Mattos; e da secretária geral do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Santa Catarina, Vanessa Bonatelli; além da presidente do CAU/SC, Daniela Sarmento.

A necessidade de ampliar a representatividade feminina no espaço de trabalho marcou a palestra da arquiteta Luiza Dias. Desde 2014, Luiza estuda gênero na profissão por meio do coletivo feminista Arquitetas Invisíveis. O coletivo, criado há cinco anos, busca criar um registro sólido da história das mulheres na arquitetura. Durante sua intervenção, a arquiteta trouxe dados importantes sobre o problema da representatividade feminina na arquitetura ao longo da história e como isso ainda é visível no cenário atual. Segundo dados levantados pelo coletivo em 2014, em 35 anos do prêmio Pritzker — uma das premiações mais importantes na arquitetura mundial — apenas duas mulheres foram contempladas. Esse e outros dados surpreenderam a plateia, o que instigou um rico debate entre as arquitetas e arquitetos ali presentes. “Eu passei tanto tempo atuando na área da arquitetura, tanto tempo na universidade, e nunca realmente tinha parado para refletir sobre todas essas coisas”, afirmou a arquiteta e urbanista Valquíria Mendes, em sua intervenção.

Marco histórico para a arquitetura

Para Luiza Dias, o Café Mulheres e Arquitetura inaugura uma nova fase para as discussões das questões de gênero dentro dos conselhos de arquitetura.  É a primeira vez, os CAU de diversos estados realizam debates desta natureza no mês do Dia Internacional da Mulher. “Eu realmente acho que este encontro foi um marco histórico e isso é reflexo do número de mulheres que temos hoje na presidência dos CAU”, acredita Luiza. Atualmente, sete entre os 27 CAU são presididos por arquitetas. Apesar de reduzido, o número é recorde. “Pela primeira vez, os CAU estão trabalhando de forma séria e comprometida para que a pauta de gênero deixe de ser invisibilizada. Foi a primeira vez em muito tempo que me senti muito contemplada pelo CAU”, completou a arquiteta, que diz acreditar que a adoção do debate resultará num processo de transformação desde a formação até o exercício profissional.


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