Publicado no dia

Sessão Temática - A economia circular na nova agenda urbana

Quando você chama um serviço de carona compartilhada, está fomentando um novo modelo de relação econômica. A economia circular já é parte do nosso cotidiano. É um movimento em plena ascensão e um modelo aplicável a todas as escalas e esferas produtivas – inclusive no setor da arquitetura e urbanismo. Mas como os arquitetos brasileiros podem se preparar para as demandas e oportunidades de uma Economia Circular? 

O 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos – CBA2019 provocou este debate em dois momentos: na Oficina “O fazer profissional no mundo em transição: construindo um posicionamento na economia circular” e durante a Sessão Temática “A Economia circular na nova agenda urbana: reflexões para o fazer profissional no mundo em transição”. A mesa teve a participação dos arquitetos Edson Cattoni e Alexandre Gobbo Fernandes (especialistas em Economia Circular), da presidente do CAU/SC, Daniela Sarmento, e do conselheiro e coordenador da Comissão de Relações Internacionais do CAU/BR, Fernando Márcio de Oliveira.

A economia circular pode ser entendida como um conceito produtivo que subverte a lógica tradicional. Enquanto o modelo linear é baseado na  exaustão dos recursos, a economia circular absorve o conceito da sustentabilidade em todos as fases do ciclo de um produto ou serviço. A ordem é reduzir o desperdício ao mínimo e oportunizar que, ao fim do ciclo de vida de um produto, seus componentes e recursos sejam administrados e mantidos dentro da economia. No novo modelo, a obsolescência se torna um conceito superado. 

“A economia circular propõe repensar o modo como produzimos, distribuímos, consumimos e (re)utilizamos bens e serviços em todos os níveis”, explica o arquiteto Edson Cattoni. A partir desta lógica, acredita, uma série de possibilidades se abrem dentro das cidades. Os produtos deixam de vendidos como itens descartáveis. Ao invés de lâmpadas, serviços de iluminação. Equipamentos de uso compartilhado, peças substituíveis nas construções… As oportunidades são infinitas e desafiam a criatividade. “A cidade passa a ser vista como um banco de materiais e há impacto tanto na produção e acesso a habitação de interesse social, quanto na gestão da recirculação dos produtos e materiais da construção”, disse Alexandre Gobbo, durante o CBA. 

A arquitetura tem grande potencial de ajuste a este novo conceito, já que o arquiteto oferece uma perspectiva sistêmica ao planejamento de cidades, regiões, bairros, edifícios, objetos e outros sistemas. “A visão sistêmica da vida do edifício deve estar presente no trabalho de qualquer arquiteto, e a economia circular trata justamente desse entendimento, que leva em conta eliminar resíduos e poluição, manter produtos e materiais em ciclos de uso e regenerar sistemas naturais, com foco em benefícios para toda a sociedade”, afirma o arquiteto  Fernando Márcio de Oliveira. 

Esta característica faz da economia circular uma oportunidade para os arquitetos e urbanistas, pois demandará sua atuação nas diversas escalas de produção e em diferentes momentos do ciclo de um edifício ou bairro. “Durante o processo projetual, o arquiteto toma decisões que influenciam em toda a vida do edifício, desde a construção, no impacto do entorno, na sua utilização e manutenção, e no seu recondicionamento ou demolição. Desta forma temos a capacidade de estabelecer uma estratégia para eliminação dos resíduos, maior eficiência e melhor uso dos recursos naturais, reaproveitamento de materiais e estruturas”, explica o arquiteto. 

Neste sentido, a presidente Daniela Sarmento acredita que a economia circular abre oportunidade para maior valorização profissional. “Quando deixamos a lógica linear de produção e passamos a conceber o projeto com a abordagem da economia circular, além de entregar metro quadrado construído, passamos a entregar os impactos resolvidos pelo projeto por todo o ciclo da construção”, afirma a presidente, Daniela Sarmento.  

Responder a estes desafios exige também repensar a atuação na arquitetura e urbanismo, acreditam os palestrantes. É preciso compreender o impacto das decisões dos arquitetos e estimular cada vez mais uma visão sistêmica sobre a sustentabilidade do planeta. A provocação se estende para a formação profissional. As escolas de arquitetura também precisarão adotar uma mudança metodológica e uma nova abordagem sobre o modelo da sustentabilidade.

A economia circular também está alinhada à Nova Agenda Urbana, que propõe aprofundamento dos padrões sustentáveis nas cidades até 2030. O parágrafo 71 do documento prevê o compromisso com a gestão sustentável de recursos “de modo a que sejam consideradas as ligações urbano-rurais e as cadeias de valor e de abastecimento funcionais face à sustentabilidade e ao impacto ambiental, num esforço de transição para uma economia circular”. Também tem consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12 da ONU (Consumo e Produção Sustentáveis). A meta 12.5 prevê que, no mesmo prazo, o Brasil reduza substancialmente a geração de resíduos “por meio da Economia Circular e suas ações de prevenção, redução, reciclagem e reúso de resíduos”. 

Na opinião da presidente Daniela Sarmento, é cada vez mais óbvio o impacto da arquitetura em cada um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, conforme a Declaração de Dhaka de 2019 da UIA. “Devemos atuar com a responsabilidade de contribuir para o ambiente construído e fazer escolhas que mudam o mundo para melhor – através de melhores edifícios, assentamentos, arquitetura paisagística e planejamento urbano”, observa. 

Os debates sobre o tema dentro do 21º CBA pretenderam chamar os arquitetos e urbanistas para esta temática que será aprofundada durante o 27º Congresso Mundial UIA2020-Rio. 

 


Deixe seu comentário