Entrevista: Presidente do CAU/BR fala sobre o papel dos Conselhos destaca superações e prevê desafios futuros

Haroldo Pinheiro assumiu o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil em 2011, após a fundação do órgão e foi reeleito para a gestão de 2015 a 2017

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entrevista haroldo pinheiro presidente do cau/br

Em seu segundo mandato à frente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o presidente Haroldo Pinheiro esteve em Florianópolis para participar do 4º Encontro Anual do CAU/SC. Durante o evento, ele concedeu uma entrevista em que relata as dificuldades encontradas para implantar o Conselho, as conquistas da categoria e as perspectivas para o futuro da profissão e do Conselho. Nascido no Ceará, Pinheiro é arquiteto e urbanista formado pela Universidade de Brasília. Desde que era estudante, trabalha com o renomado arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Assumiu o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil em 2011, na primeira gestão após a fundação do órgão. Em 2014 foi reeleito para presidir o órgão de 2015 a 2017.

Confira a entrevista com o Presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro:

Qual é a sua relação com Santa Catarina?

Minha relação com Santa Catarina é muito antiga e vem desde os meus tempos do Instituto de Arquitetos do Brasil, há 20 anos. Fomos trabalhando expectativas e construindo juntos uma organização que pudesse regulamentar e gerir a profissão. Com a construção do Conselho, a conquista do Conselho, podemos nos estruturar mais em rede por todo o país e aqui em Santa Catarina isso se reflete bem e de forma organizada.

Como o senhor vê o trabalho desenvolvido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado?

Fico muito feliz quando vejo o CAU/SC avançar sobre o seu território, conquistar a confiança dos colegas arquitetos e fazer um trabalho como esse. É a prova de que nossas metas estão sendo atingidas. Admiro essa expansão intensa do Conselho aqui no Estado. Vejo que no território de Santa Catarina se busca constantemente a solidificação de uma rede de comunicação integrada com os arquitetos de todo o Estado, a fim de saber o que é que nós devemos fazer para servir melhor a profissão e, por consequência, a sociedade. Temos aí um trabalho de 20 anos até a fundação do CAU que nos últimos cinco anos intensificou esse processo. Então, para mim é uma alegria muito grande ver que aquilo que tínhamos organizado está sendo executado com grandes contribuições de outros colegas que se somaram a essa luta.

O senhor está em seu segundo mandato à frente do CAU/BR. O primeiro teve início junto à fundação do órgão. Como foi iniciar esse processo?

Foi um trabalho intenso. Nós tínhamos conhecimento das organizações de arquitetos pelos outros países, diferentemente do que acontecia no Brasil, onde nós não tínhamos o controle, nem um gerenciamento da profissão. Esse papel era acumulado por profissionais de outras áreas. Um órgão regulamentador de outra profissão. Nós achávamos que éramos dependentes de outras organizações voltadas a outras profissões que decidiam sobre a nossa por nós.

Então, o desafio maior era atrair a confiança dos nossos colegas de profissão e transitar de uma organização que bem ou mal estava funcionando para algo que era novo e estava começando do zero. Circunstância que nós conseguimos com a ajuda dos colegas mais antigos e de arquitetos e urbanistas renomados que confiaram seu prestígio a nós, para apoiar esse processo e construir essa confiança.

Foi um processo bastante árduo. Nós tínhamos uma meta, mas houve um intervalo, em que nós não tínhamos sequer instrumental para atingir esse projeto. Para você ter ideia, a primeira sede do CAU/SC foi no meu escritório. Durante alguns dias o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do país inteiro era no meu escritório, no meu pequeno escritório em Brasília… Lembro que esvaziei toda a sala, tirei mesas e equipamentos para poder acolher o órgão e ocupamos, inclusive, os corredores do prédio.Esse momento de transição, foi o momento mais complexo. Mas nos fortalecemos através da tecnologia. Os instrumentos de comunicação da atualidade foram o que nos auxiliou a criar um sistema virtual capaz de levar o CAU aos escritórios e aos profissionais, com agilidade e clareza. Graças a Deus, funcionou! (risos)

Foi um trabalho de muita dedicação e doação?

Foi, sim! De muita dedicação… Mais do que isso, foi aceitar o desafio. Na nossa profissão, no nosso cotidiano de prática profissional é muito comum você ter que aceitar um desafio que aparentemente é muito difícil, mas que é possível, se você projetar, se você planejar e realizar com muito capricho. E assim foi preciso planejar e executar com confiança de que naquele momento nós estávamos fazendo o melhor possível. Se isso não funcionasse, na próxima vez faríamos de outra forma ainda melhor. Hoje, o que nós fazemos é o melhor que nós podemos e a partir dessa experiência podemos, no futuro, fazer outra coisa ainda melhor. Todo projeto é assim, você tem que ter coragem de arriscar, de desenhar e de realizar, sabendo que está depositando todos os seus recursos para um projeto de qualidade e tudo isso, ainda estando consciente das nossas limitações. Tendo a humildade de ouvir os colegas e contribuições e, ao mesmo tempo, a coragem de tomar decisões.

Atualmente, quais os são os desafios que os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo tem pela frente?

Estamos trabalhando em Brasília na defesa das nossas prerrogativas profissionais e na defesa das melhores orientações legais para a prática da nossa profissão. Nesse sentido, estamos em discussão no Congresso e junto ao governo federal na defesa de uma política de estado para as cidades brasileiras. Temos assistido a situações desagradáveis e até dramáticas para o país, com a nossa atividade profissional envolvida. Obras realizadas com sobrepreço, obras realizadas sem planejamento, obras sem projeto completo ou de qualidade duvidosa…
Então, nós temos lutado fortemente contra a consagração do regime diferenciado de contratação e a contratação integrada, que admite projetos sem o critério da qualidade. Superar esses aspectos deturpados é, com certeza, um desafio.

Além disso, já chegamos a mais de 500 cursos de arquitetura no Brasil. Não é que sejam muitos, mas há uma distribuição desequilibrada. E dentre os desafios, entendo que também esteja a observação da diáspora dos egressos das escolas de arquitetura para que, com isso, nós possamos dialogar com mais seriedade junto ao MEC e ter um certo controle na criação de novos cursos.

O 2º congresso Catarinense discutiu intensamente os eixos escola, profissão, cidade e as transformações que vem sofrendo a profissão e o exercício profissional de AU. Como está o momento da Arquitetura e Urbanismo no mundo?

Eu acho que eles foram muito felizes com a temática do encontro e do congresso realizado durante todo o ano. Para mim, é uma alegria muito grande ver que o que está sendo executado poderá ser ainda maior do que nós esperávamos o início desse trabalho. Penso que com essa linha condutora Escola, Profissão e Cidade, partimos do começo com a discussão da formação, passamos pelo exercício e competências do profissional e chegamos ao que temos a oferecer à sociedade e às cidades.

Hoje, a gente vê que o mundo está cada vez mais interligado e funcionando em rede. Há pouco tempo atrás, o Instituto Brasileiro de Arquitetos realizou um concurso para a construção de uma estação na Antártica. Foi feito um concurso, o projeto de arquitetura foi desenvolvido por um escritório de Curitiba, mas que teve a coparticipação de escritórios complementares da Europa. Era um projeto altamente delicado, construído sobre o gelo no Polo Sul e tivemos que buscar nessa rede especialistas com conhecimento em obras no gelo. Agora, já em fase de construção, o projeto está sendo pré-fabricado na China e, claro, será executado na Antártica. Então, você vê que temos que funcionar considerando como limite o planeta todo. Que é um não limite, pois é redondo. E isso, cada vez mais, nos permite entender o tempo em que nós vivemos e o sistema que nos liga em rede. Que precisa do compartilhamento, da troca e do intercâmbio.


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